Pular para o conteúdo principal

Notas sobre o fim

Ouvi dizer que você tem falado de mim pelos bares da cidade, aqueles velhos bares que costumávamos frequentar. Você tem pedido até mesmo aquele drink que você caçoava quando eu tomava. Você diz para quem quiser ouvir, em meio a sua crise de bebedeira, que sente saudade de mim e nunca vai superar minha partida.
 É nessas crises que você fala tudo aquilo que nunca falou para mim, deixando as lacunas para serem preenchidas com dor e mais perguntas. Você cimentou todas as inseguranças que era possível em uma pessoa.
Para um amigo, você confessou que agora está um pouco paranoico, me vendo em todos os lugares e você está perto de enlouquecer, como você enlouquecia. Você começa a sentir o vazio na sua cama todas as noites. Seu olfato sente falta do meu perfume, e você vai perceber que ele não pode ser comprado em nenhuma loja.
Me contaram que você até chorou assistindo meu filme favorito, aquele que assistíamos tarde da noite quando a insônia me fazia uma visita. Sei que parece arrogante contar essas coisas agora, mas queria que você soubesse que entendo.
Passei noites em claro procurando você entre lençóis e pessoas vazias. Depois que você foi embora, a sua música preferida tocou mil vezes na minha playlist. Eu nunca me senti tão sozinha em busca de preencher o vazio que ocupava o universo.
Foram meses e meses afogada no mar de mágoas que você criou. Achei que tinha atingido o fundo do poço e que a saída era uma escada sem fim. E então encontrei no meio do caminho a mim mesma.
 Eu sei que dói quando você diz por aí que sente falta da forma que olho para as luzes da cidade tarde da noite e fico encantada. Sei, porque me doeu lembrar que seus olhos sempre piscam rápido demais quando você está realmente animado com algo.
Sinto que estou cantando uma canção sobre o fim. Os versos saem tortos e desritmados, mas no fim espero que você possa compreender que nossas estradas não se cruzam mais. Você deveria ter me amado com tamanha intensidade quando eu ainda estava por perto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Era uma vez, outra vez.

Era uma sexta-feira à noite, estávamos parados de lados opostos da calçada esperando o regresso de um casal amigo nosso, o silêncio já estava tornando-se constrangedor. Ele repara pela primeira vez que meu cabelo está muito diferente desde a última vez que nós nos vimos, faz uma comparação saudosista, ainda que tímida, de quando eu estava com ele todo bagunçado em uma apresentação da escola. Por todo o caminho no carro, trocamos apenas amenidades, falamos da dificuldade de nos tornarmos adultos, relembramos apenas situações não muito profundas, tudo muito casual e raso. Então ele se senta estrategicamente perto o suficiente para que pequenos toques aconteçam. Assistimos o casal da mesa brigar por pequenas coisas e, entre minhas risadas, encontro o olhar dele e lhe pergunto implicitamente se teríamos acabado assim, então ganho como retorno um daqueles sorrisos enigmáticos que mais me enchem de perguntas do que me dão uma resposta. A conversa de bar acaba virando o nosso típico “c
Cada dia que passa eu tenho a certeza que o amor não é para mim. É incrível como eu sempre me apaixono pelo cara errado, como sempre acabo em algo que não vai levar em nada. Eu queria saber meu problema realmente. O amor parece tão simples para a maioria das pessoas, e casais que nasceram para ficar juntos ficam. Mas comigo, o cupido parece pregar uma peça. Talvez eu não mereça o tal do foram felizes, nem precisava ser para sempre. Parece que quanto mais eu amo uma pessoa mais eu consigo afastá-la de mim. Falta-me capacidade de construir algo permanente, falta palavras para dizer o quanto alguém é importante para mim. Talvez o amor seja apenas para aquelas histórias de televisão e livros, ou até mesmo o amor seja um jogo de azar que eu não sei jogar.

Não deixe a porta aberta.

Ontem o Passado veio tomar um chá. Deu duas leves batidas na minha porta. Toc toc. Atendi pelo olho mágico, tentando fazer um reconhecimento prévio. Será que deixo entrar ou cancelo tudo por aqui mesmo? Perguntei-me exaustivamente. Então, sorrateiro como Passado é, cantou – me a mais bela das serenatas. No começo, resisti e só escutei poucas notas. Grande erro. As notas foram tornando-se melodia aos meus ouvidos, e logo estava cantando a canção. Logo, a porta estava aberta e o Passado estava sentado no sofá com os pés na mesinha de centro, pedindo que eu alcançasse uma cerveja para ele. E que estivesse bem gelada, claro. E o nosso chá? Indaguei. E com um sorriso torto o Passado me disse para parar de reclamar e beber com ele.  E esperto como é, sabia que eu não resistiria à companhia dele. Não havia uma hora de sua chegada e o Passado já tinha me ganho. Inundou-me de risos e lágrimas. Me fez acreditar que sem ele não iria conseguir continuar. E do nada, levantou-se e fo