Peguei-me pensando que jamais tinha escrito algo sobre você. Nada, nenhuma linha de um diário, um verso, um cantinho de caderno, nem mesmo contava casualmente sobre sua existência. E comecei a questionar qual seria a razão disso. Você foi importante, talvez mais do que qualquer outro. Importou tanto para mim que, só guardei sua cartinha de amor, de ninguém mais, e por mais de um ano, e talvez a tivesse até hoje se a chuva não a tivesse estragado. Entre todas as cartas, desenhos, poemas que eu já recebi, a sua foi a que mais significou para mim. Lembro-me de você dizendo que não era para me importar com a letra, pois você ficou com vergonha de escrever com sua caligrafia e pediu para sua prima. Mas hoje, eu queria que fosse a sua letra rabiscada lá, para que as lembranças fossem mais fiéis a você.
Tamanho era sua importância, que eu usei aquele colar amarelo com aquele cordão preto horroroso até que ele se estragasse.
Sabe o que é engraçado? Quando se é pequeno um “namorado” pode ser apenas um grande amigo. Tamanha era nossa inocência que achávamos que só de passar o intervalo juntos, sentado um do lado do outro, conversando, estando sempre juntos era o suficiente para achar que estávamos em um relacionamento, fiquei até brava quando outro menino me disse que eu era sua namorada, porque era nosso segredo, e de ninguém mais. Hoje eu dou risada, e penso como era tudo muito simples, era um infantil bom, puro. Talvez, com o tempo a gente cresça e complique tudo mesmo.
Já faz oito anos que eu não te vejo, que não sei absolutamente nada sobre você. Não sei quais seus sonhos, suas perspectivas. Você quer entrar na faculdade? E se quer, o que pretende fazer da vida? Vai se tornar um médico, engenheiro, advogado, professor, artista? Será que você está no caminho certo ou se envolveu com coisas erradas? Quais seus medos, seus anseios, suas alegrias, frustrações, sua cor favorita, seu time de coração? Nada sei, nem mesmo mais sobre sua família.
Acho que hoje em dia você teria orgulho de mim, voltei a ser uma pessoa decidida, que se sente bem consigo mesma e com suas decisões. Ando de cabeça erguida, até com um sorriso estampado no rosto. Ninguém mais pisa em mim, e talvez seja o que você mais admirou em mim naquela época.
Nem sei se ao longo desses oito anos você voltou a pensar em mim. E nem sei, se quando pensou, foi de uma boa maneira. Algo dentro de mim, diz que é inútil estar escrevendo sobre isso depois de tanto tempo, são enormes as chances de você nunca ler, mas de qualquer maneira eu o precisava fazer, eu precisava uma única vez escrever algo para você, e algo que você talvez acabasse encontrando.
Hoje eu sei o que eu sentia nunca foi amor, nunca achei que fosse. Mas você representou algo muito forte para mim, algo que não sei nomear tendo uma plena certeza que se representaria absolutamente o que é. Ao contrário de muitos babacas que conheci, de você não levo nenhum ressentimento ou qualquer outra coisa ruim. Sua lembrança é como um primavera, calorosa e agradável, que levo dentro de mim.
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