Pular para o conteúdo principal

Fastio


Buscou dentro de seus relacionamentos vazios, mas nada encontrou. Voltou a trás, tentou novamente com todos os homens de sua vida e nada. Afundava-se cada vez mais sem saber o que queria.  Funcionava como um relógio voltando, talvez porque já não soubesse mais como ir em frente. Ali era seguro e nada mais. 
Beijou João, José e Francisco. Quando cansava de João, pra Chico ia. Depois do Chico lá estava o Zé.  Passava por Chico de novo só para chegar até João. Vivia sob um tédio interminável com eles. Mas nunca se deu conta disso. 
Achava importante tentar de novo.  Era seu complexo de salvadora. Sempre tentou ajudar tudo o que via pela frente. Animaizinhos feridos, amigas de coração partido, eletrodomésticos quebrados. E era bem sucedida na maior parte das vezes.
Mas quando era sobre si, não sabia o que fazer. Achava maravilhosa a adrenalina de seus relacionamentos fadados ao fracasso. Era uma verdadeira montanha russa. Emocionante no começo, mas quanto mais tempo passava ali, mais entediada ficava.
Um dia conheceu Miguel, com quem teve conversas bobas e risadas fáceis. Viajou com ele para o campo por um final de semana. Ele lhe preparava jantares ao som de jazz.  Recitava trechos de Neruda e Jabor. Parecia saído de um filme. Então, conheceu um novo tipo de tédio. Decidiu que era bom demais para ela.

Voltou para o ciclo de Chico, Zé e João. Talvez, pensou ela, sua vida não era demasiadamente vazia. Na sua certidão não era Emma, mas já se sentia Bovary. 

Comentários

Anônimo disse…
Novamente escrevendo maravilhosamente bem ne senhorita Amanda, tu vais longe. Na vida não podemos contentar com o que temos, sempre devemos querer mais, querer sermos melhores. Um beijo Amanda, ate breve em seus próximos textos ;)

Postagens mais visitadas deste blog

Era uma vez, outra vez.

Era uma sexta-feira à noite, estávamos parados de lados opostos da calçada esperando o regresso de um casal amigo nosso, o silêncio já estava tornando-se constrangedor. Ele repara pela primeira vez que meu cabelo está muito diferente desde a última vez que nós nos vimos, faz uma comparação saudosista, ainda que tímida, de quando eu estava com ele todo bagunçado em uma apresentação da escola. Por todo o caminho no carro, trocamos apenas amenidades, falamos da dificuldade de nos tornarmos adultos, relembramos apenas situações não muito profundas, tudo muito casual e raso. Então ele se senta estrategicamente perto o suficiente para que pequenos toques aconteçam. Assistimos o casal da mesa brigar por pequenas coisas e, entre minhas risadas, encontro o olhar dele e lhe pergunto implicitamente se teríamos acabado assim, então ganho como retorno um daqueles sorrisos enigmáticos que mais me enchem de perguntas do que me dão uma resposta. A conversa de bar acaba virando o nosso típico “c
Cada dia que passa eu tenho a certeza que o amor não é para mim. É incrível como eu sempre me apaixono pelo cara errado, como sempre acabo em algo que não vai levar em nada. Eu queria saber meu problema realmente. O amor parece tão simples para a maioria das pessoas, e casais que nasceram para ficar juntos ficam. Mas comigo, o cupido parece pregar uma peça. Talvez eu não mereça o tal do foram felizes, nem precisava ser para sempre. Parece que quanto mais eu amo uma pessoa mais eu consigo afastá-la de mim. Falta-me capacidade de construir algo permanente, falta palavras para dizer o quanto alguém é importante para mim. Talvez o amor seja apenas para aquelas histórias de televisão e livros, ou até mesmo o amor seja um jogo de azar que eu não sei jogar.
Era uma quarta- feira de manhã quando me perguntaram se eu costumava me sentir bem com apenas uma palavra dele. Então milhares de coisas atravessaram a minha mente. Desde o momento em que nos conhecemos, a primeira vez que conversamos de verdade, todas as vezes que paramos de conversar e voltávamos tudo ao normal dias depois. Viajei por segundos em meus pensamentos e sentimentos mais profundos e minha resposta foi que sim, e que continuava a ser assim. Depois de todos esses anos continua a ser como no começo. Ele me irrita quando age como um idiota, mas volta um amor quando vem falar comigo com seu jeito despreocupado. Ele é complicado de entender e talvez seja isso que eu tanto gosto nele. Ele não me sufoca, não me prende. Então me faz ter vontade de correr, correr para seus braços e não sair mais dali. Ainda coro na presença dele e tento me concentrar nos meus pés para que ele não perceba. Somente com ele não tenho preocupação por rir alto demais ou a hora de retornar para casa. E