Buscou dentro de seus relacionamentos vazios,
mas nada encontrou. Voltou a trás, tentou novamente com todos os homens de sua
vida e nada. Afundava-se cada vez mais sem saber o que queria. Funcionava como um relógio voltando, talvez
porque já não soubesse mais como ir em frente. Ali era seguro e nada mais.
Beijou João, José e Francisco. Quando cansava
de João, pra Chico ia. Depois do Chico lá estava o Zé. Passava por Chico de novo só para chegar até
João. Vivia sob um tédio interminável com eles. Mas nunca se deu conta
disso.
Achava importante tentar de novo. Era seu complexo de salvadora. Sempre tentou
ajudar tudo o que via pela frente. Animaizinhos feridos, amigas de coração
partido, eletrodomésticos quebrados. E era bem sucedida na maior parte das vezes.
Mas quando era sobre si, não sabia o que
fazer. Achava maravilhosa a adrenalina de seus relacionamentos fadados ao
fracasso. Era uma verdadeira montanha russa. Emocionante no começo, mas quanto
mais tempo passava ali, mais entediada ficava.
Um dia conheceu Miguel, com quem teve
conversas bobas e risadas fáceis. Viajou com ele para o campo por um final de
semana. Ele lhe preparava jantares ao som de jazz. Recitava trechos de Neruda e Jabor. Parecia
saído de um filme. Então, conheceu um novo tipo de tédio. Decidiu que era bom
demais para ela.
Voltou para o ciclo de Chico, Zé e João.
Talvez, pensou ela, sua vida não era demasiadamente vazia. Na sua certidão não
era Emma, mas já se sentia Bovary.
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